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Diferentes graus de autismo
A inclusão e a aceitação da diversidade são essenciais para termos uma sociedade mais justa e equitativa para os autistas, que têm muito a nos enriquecer com suas perspectivas únicas e habilidades especiais.
Mas apesar do aumento da divulgação a respeito do tema, ainda falta a compreensão aprofundada de que se trata de um espectro amplo, com diferentes sinais e sintomas. Portanto, não existe somente um tipo de autismo, mas há várias nuances no espectro.
A definição de TEA segundo o DSM-5
É comum que muitas pessoas se refiram ao autismo, asperger, autismo tardio e outros distúrbios de forma separada, mas em 2013 esse conceito mudou, todos estes nomes tratam dos diferentes graus de autismo.
Desde 1952, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) faz a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Esse material se tornou uma referência na classificação de diagnósticos de transtornos mentais, um guia que passou a ser utilizado por médicos do mundo todo. Com o avanço dos estudos, à medida que novas descobertas científicas foram surgindo, versões atualizadas do manual foram anunciadas.
A 5ª e última edição do Manual, o DSM-5, foi lançada em 2013. Nessa versão, os transtornos do neuro desenvolvimento foram combinados em um único diagnóstico, chamado “Transtorno do Espectro Autista - TEA”. Portanto, as condições que eram anteriormente vistas de forma independente passaram a fazer parte do mesmo espectro.
Esses e outros distúrbios foram unificados em um espectro por apresentar características comportamentais parecidas: dificuldades de interação social, dificuldades de comunicação, comportamentos repetitivos e restritos. O que diferencia o nível desse espectro é a intensidade dos sintomas e a necessidade de suporte.
CID-11 e a mudança na classificação do autismo
Em 1º de janeiro de 2022 entrou em vigor a 11ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o CID é uma das principais ferramentas epidemiológicas utilizadas por médicos de todo o mundo.
Anteriormente, a CID classificava o autismo entre os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs), identificado nos laudos como F84.0. Mas, na versão mais recente (CID-11), passaram a considerar os ajustes feitos no DSM-5, classificando o autismo como Transtorno Espectro Autista (TEA), representado pelo código 6A02.0.
Entenda a antiga classificação dos tipos de autismo
Antes de 2013, as condições que faziam parte do espectro eram entendidas como diferentes tipos de autismo. Mesmo que essa definição não seja mais adequada, listamos abaixo como essas categorias eram compreendidas antes da publicação do DSM-5:
Síndrome de Asperger
Apesar dos sintomas característicos incluírem dificuldade de se comunicar, de compreender as emoções e de se relacionar com o próximo, por muito tempo o asperger foi considerado como uma forma leve de autismo.
Isso acontecia porque muitas pessoas com síndrome de asperger não apresentavam dificuldades de aprendizado, um menor atraso na linguagem e, em alguns casos, um desempenho cognitivo considerado acima da média.
Apesar das dificuldades e presença de características semelhantes ao autismo, era comum que crianças com síndrome de asperger conseguissem aprender, se desenvolver e ter menos prejuízos na vida diária. Com isso, o diagnóstico frequentemente acontecia de forma tardia.
Transtorno Autista
Aqueles que apresentavam sintomas mais graves, com capacidade de fala, cognição e relacionamentos afetados de forma mais intensa, eram identificados com o transtorno autista propriamente dito.
Era notado também a repetição de comportamentos, a dificuldade em fazer contato visual e no aprendizado da linguagem, dependendo de mais atenção para que suas necessidades fossem atendidas.
Autismo tardio
O autismo tardio também era conhecido como Síndrome de Heller ou como Transtorno Desintegrativo da Infância (TDI).
Esse transtorno se manifestava como uma regressão acentuada no desenvolvimento da criança com mais de dois anos. Essa regressão poderia acontecer de forma gradual ou abrupta, normalmente fazendo-a perder suas capacidades de comunicação, compreensão e habilidades sociais.
É importante saber: a regressão causada pelo Transtorno Desintegrativo da Infância costumava aparecer em uma fase da infância em que as crianças recebiam muitas vacinas. Por isso, várias pessoas viram nessa coincidência uma possível causa do TEA. No entanto, é importante lembrar que não existe nenhum dado científico que interligue as duas coisas.
Portanto, após a publicação do DSM-5, todos esses tipos passaram a ser entendidos como várias nuances do mesmo transtorno. Afinal, enquanto uma pessoa com TEA pode apresentar apenas uma sensação incômoda de “não-pertencimento” na sociedade, outras podem ter dificuldades sérias de aprendizado, comunicação e em tarefas básicas do dia a dia. Por isso, a palavra “espectro” é utilizada justamente para abarcar todos os subtipos do TEA.
Portanto, o que diferencia as condições do espectro são a diversidade de sintomas, os níveis de gravidade e a necessidade de suporte.
Autismo leve e os níveis de gravidade do autismo
Antes da quinta edição do Manual publicado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA), entendia-se o autismo leve como um tipo de autismo onde o paciente tinha um comprometimento menor das funções cognitivas, ou seja, com menos interferência e necessidade de suporte em seu dia a dia.
Mas esse termo recebeu uma nova roupagem no DSM-5, que estabeleceu três níveis de gravidade do TEA: nível 1, 2 e 3. Segundo Joice Andrade, neuropsicóloga e diretora científica da Jade, “justamente por se tratar de um espectro, o transtorno passou a ter níveis de classificação”.
Confira abaixo mais detalhes sobre cada um deles:
Nível 1
Pessoas diagnosticadas com o Nível 1 apresentam menos interesse ou dificuldade em iniciar interações sociais, respostas atípicas ou mal sucedidas para abertura social, falência na conversação e tentativas de fazer amigos de forma estranha e mal sucedida.
Joice explica que “o autismo conhecido como leve se assemelha, atualmente, com a classificação de nível 1”. Além disso, ela acrescenta que autistas que se encaixam neste nível também “podem apresentar um comportamento que interfere significativamente com a função, dificuldade para trocar de atividades e independência limitada por problemas com organização e planejamento”. Justamente por isso, é classificado como um transtorno.
Mesmo com sintomas mais leves e com independência para realizar muitas tarefas, o DSM-5 esclarece que o apoio terapêutico é indispensável.
Nível 2
Pessoas diagnosticadas com Nível 2 têm prejuízos mais aparentes. Mas apesar de necessitarem de suporte substancial, muitos ainda conseguem ter alguma independência.
Seus desafios podem incluir um maior déficit na comunicação verbal e não verbal, aflição para mudar o foco ou a ação, comportamentos repetitivos, sensibilidade à luz e aos sons. Em alguns casos, o funcionamento mental pode ser abaixo da média.
Nível 3
Pessoas diagnosticadas com o nível mais grave do espectro apresentam graves prejuízos no funcionamento. Por isso, necessitam de suporte substancial, até mesmo para realizar as tarefas de autocuidado do dia a dia, como higiene pessoal.
A abertura social dessas pessoas é muito limitada, com respostas mínimas à interação e pouquíssima sensibilidade a determinados estímulos sensoriais. A dificuldade para lidar com mudanças fica ainda mais extrema, fazendo com que alterar o foco ou a ação gere ainda mais aflição.
Além disso, apresentam comportamentos repetitivos ainda mais graves e grande prejuízo intelectual e de linguagem, e comumente não se comunicam verbalmente.
Fonte: https://www.jadeautism.com/autismo-leve-tardio-e-asperger. Acessado em 19/06/2024.
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